quarta-feira, 11 de maio de 2011

Outono

Por entre as pedras da rua simples, as folhas daquelas grandes árvores eram repousadas no chão.
Caíam sem qualquer ordem, sem qualquer mandamento. Apenas se desprendiam.
Curiosa, uma menina apoiada na janela de sua casa contava de quanto em quanto via uma folha cair. A mesma decidiu pegar uma vassoura e juntar todas aquelas.
E assim fez, uma a uma. Aos que passavam por perto, um grande monte de folhas amareladas escondiam uma casinha simples. Mas para a menina, o monte representava algo melhor: um grande e confortável colchão.
A menina tomou coragem e pulou sobre o monte de folhas. Quando se deu conta, as folhas caíam com extrema lentidão, como se respeitassem o ritmo de seu coração, que emocionado entrava em sinfonia com suas tímidas lágrimas, para formar uma música dançante para cada uma daquelas folhas mortas.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Camuflagem

Sentinela de suas próprias noites de sono, dormia com um olho aberto, outro olho fechado. A boca semi aberta para poder gritar ou calar-se dependendo da situação. Desconfiada era, como um bicho do mato.
Um olho, para a porta ao leste. O outro, para a janela a oeste. Não vigiava o teto, afinal, a imaginação deveria acontecer em algum canto do quarto.
As idéias formulavam imagens, o silêncio musicava sons, a paz aumentava a ansiedade.
A loucura saturou sua paciência, entortou seus olhos e a fez querer que nunca mais a percebessem... 



segunda-feira, 2 de maio de 2011

Vitalidade

Este vento que veio bagunçar meu cabelo, também soube como embaralhar minhas idéias. Aos poucos, elas dançaram e se tornaram novas idéias. Por fim, uma idéia somente. Essência de mim. 
Este mesmo vento, um dia foi embora. Passou por entre ninhos e se fizeram pássaros, rodopiou sementes e formou flores.
Ninguém se lembra quando, mas este vento soou sinos, movimentou caravelas e fechou portas, para abrir janelas.
Este vento se foi, mas em seu tempo cíclico, ele voltará. Mudará idéias, formas e oportunidades...Mas as essências hão de ser como bem entenderem.


sábado, 30 de abril de 2011

Tac



Ouve-se um estalo da cozinha. Depois outro, e mais outro...
Eles não cessam. Era o relógio de parede.
Apenas uma unidade de medida numerada pelos homens. Aquela máquina não me conhece, não sabe donde vim, não sabe para onde quero ir.
Meus pensamentos não se medem em segundos, os dias não calculam o quanto demoro para pensar e os anos nem imaginam minha idade.
Mas os estalos não cessam, meu pulso também não.

Limitou-se


Limitou-se quando era criança, quando desprezou a caixa de papelão que poderia ser uma linda casa, um foguete da NASA ou até mesmo um belo casco de tartaruga.
Limitou-se quando era adolescente, pois deixou de sonhar com seu príncipe encantado, em virtude disso, seus poemas nunca atingiram o prestígio do romantismo ou a  cafonisse que o mesmo traz.
Limitou-se quando adulta, onde preferiu ninar seu filho em apenas berço e cobertor, já que nunca valorizou contos de fadas ou quis criar cantigas de ninar.
Limitada é hoje, idosa. A saúde não lhe agrada, mas atrofiadas se tornaram suas expectativas, deixou a esperança de lado pois sempre preferiu manter os pés no chão… Até que um dia, o chão os engoliu.
Sete palmos. Sete palmas. E mais nenhuma lembrança se fez.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Encheu-se

Numa casa da vila aqui perto, um menino se sentou a frente do sofá e ligou a TV. Os mesmo comentários da mídia, os mesmos comentários banais e as mesmas pessoas que ele viu em revistas.
Mas mesmo assim, sentiu-se  em sossego da máquina a frente, pois era dia de chuva.
Pela janela ele viu uma simples garoa tornar-se tempestade. O menino olhou para a porta e se assustou ao ver que a água suja adentrava sua moradia. Pulou em cima do seu sofá e quando se deu conta, estava em um barco.
Um barco com a marca das Casas Bahia num rio de gotas de chuva.
Saiu pelo portão, já estava na rua. Por sua volta, via seus vizinhos escalarem seus telhados, todos numa correria tremenda para salvarem bens materiais.
O menino sem ter o que fazer, ficou com medo de chorar, acreditava que se chorasse, aumentaria a enchente.
Lhe restava somente contemplar a cena, afinal, o que uma criança poderia fazer?
Por entre as águas sujas que o ilhavam, um leve ninar as mesmas lhe traziam, como na breve lembrança de seu berço de neném. Não resistiu à situação, decidiu dormir, para acordar, amanhã, bem longe dali.

Este texto é um diálogo com as notícias sobre as chuvas em São Paulo e as iniciativas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e o prefeito, Gilberto Kassab (DEM), que anunciaram nesta tarde um plano de R$800 milhões para combate às enchentes.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sentimento cardiovascular


Com um ano de idade já vivia a menina com seus dias predestinados. Síndrome.
Por algum motivo, foste escolhida entre oito milhões de humanos que nasciam naquele exato momento. Ela, a presenteada.
A família chocou-se com as notícias médicas, os jornalistas buscaram informações com os médicos e os médicos recorrerram aos ratos, experimentos: a última saída.
Já fazem treze anos. Deu tudo certo, até agora.
A menina com síndrome rara vive mais do que a expectativa, o mundo inteiro comemora sua resistência física, pois a maioria dos que sofrem desta doença morrem por complicações cardiovasculares.
Mas mal sabem eles, que a dor que a menina traz ao coração é maior do que qualquer doença diagnosticada. Ela sofre com uma doença de um tipo particular de menina sonhadora, aquela onde os sonhos nunca chegarão à realidade por falta de fé.
Fé que vai viver mais ela tem todas as noites. Fé de ir até os EUA tomar mais injeções ela tem. Fé de sorrir no dia seguinte ela sempre teve.
Mas onde está a fé em ser... Uma menina?
Triste, em seu coração dor maior do que aquela palpita com dificuldade é a dor de desistir de sonhar e para conter resultados.





Este texto é somente um diálogo feito a partir da história real de Hayley Okines, que hoje completou 13 anos de vida.

Seguidores